24.9.06

Perca-me que me acho em seu lugar.
Perca-te que eu te encontro e mudo o eixo.
Ouça o silêncio do que nunca foi dito repetindo suas palavras.
Nenhuma palavra seria o bastante, não fosse todo o dicionário.
Perca-te no que eu já tenho perdido, porque entender é para os fracos.
Faça sem previsão, ame sem contenção, jure sem remorsos.
Escreva sem saber aonde vai dar, publique assim, sem querer editar tudo depois.
Seja conduzido pelo nada, porque nada conduz tanto nada assim.
Preencha meu vazio que te faço incompleto, mil alto-falantes me gritam pra você.
Não quero mais ir embora, quero me perder em seu lugar.
Quero ser o seu caminho, dentro de todos que já tenho perdido.
Preciso me perder de mim para me achar.

18.9.06

E se você me ligar hoje, agora, sem hora
Eu não saberei bem o que dizer.
Não sei se criarei silêncios constrangedores
De quem quer demais querer alguma coisa.
Me ligue agora, vamos ali fora porque se alguém demora, esse alguém não sou eu.
Odeio rimas previsíveis.
Odeio gente previsível, mesmo sendo uma delas.
Odeio com aquela força de quem ama muito.
E de quem não consegue odiar nada.
Mas me odeie, eu te odeio, saia.
Saia, mas fique comigo, pra sempre até agorinha.
Por favor, eu não imploro, eu ordeno.
E de tanta ordem acabei bagunçando tudo.
Eu sempre penso no que vou falar
Pra chegar e mudar todo o discurso.
Eu sempre falo nunca mais vou falar sempre.
E sempre falo sempre e falo nunca mais também.
Eu sou tão idiota que me orgulho de mim.
Mais de mim que de você.
E se você me ligar hoje, agora, sem hora
Eu não saberei bem o que dizer.
Mas já estou treinando tudo o que quero mas não vou falar.

15.9.06

E quando um ponto
Encontrar seu ponto metade
Serão dois pontos
Para uma pausa rápida.

12.9.06

Ontem eu me suicidei.
Me suicidei porque não podia mais conviver com a conjugação pronominal desse verbo.
Ninguém se suicida, eu insisto!
Suicidar é matar-se e ninguém se mata-se.
Quem suicida já mata a si mesmo, não é “matado” por outrem.
Portanto, divulguem nos jornais apenas que suicidei e poupem o pobre do pronome oblíquo.
Foi uma decisão minha, ele não teve culpa.
Deixem o pobrezinho sobreviver...
“Srta. Garatuja suicida”.
Já me basta.
A Gramática não mudaria por uma birra minha.
Mas a questão foi... ou eu ou o me, não havia espaço para nós dois.
Não dava mais, eu estava sofrendo muito.
Digam a minha família que foi sacrifício gramatical.
A Língua Portuguesa entenderá.
Ontem eu suicidei e, no meu céu, fiz questão de suicidar todos os verbos complicados do meu vocabulário.
Estou feliz minha gente.

10.9.06

Minhas cores em branco e preto.

Tela em branco.
Por que a letra original do word já não é um Comic Sans cor-de-rosa?
Estimularia muito mais nossa empacada inspiração.
Hoje eu penso em cores.
E por isso penso meio esverdeada assim.
Roxo de frio, azul de so good, amarelo de fome.
Vermelho de paixão e, por tabela, vermelho de raiva.
Muita raiva de nunca ter decorado as sete cores do arco-íris.
A coisa tá mesmo preta
E, dessa vez, as palavras não me encontram, como burro-quando-foge.
É uma cor, não é?
Mas não sei bem a tonalidade.
Que lixo de texto! Tão marrom quanto aquilo lá mesmo.
Tantas cores e nenhuma idéia.
Onde estão o dourado, o púrpura, as cores do verão?Não adianta...
Eu me rendo ao cinza das cores.
Melhor apagar tudo e ficar no branco em tela da tela em branco.
E não há branco mais escuro que esse.

6.9.06

A gente só terminou porque se gostava muito.
Eu só saí de casa porque não queria mais meus pais sofrendo.
Eu só fiz essa tatuagem pra inventar uma rebeldia.
Eu mudei de cidade pra não magoar aquelas pessoas.
Meu cabelo curto e vermelho me deixam revolucionária
Mas minhas unhas bem-feitas me entregam...
Meus olhos parecem tão frágeis
Que é por isso que ando tão forte.
Só bati a porta na sua cara porque estava ao ponto de te beijar.
Só rasguei todos os meus poemas porque não sei dizer nem metade deles quando preciso.
Escrevo nessa folha em branco porque me incomoda tanta pureza.
Rabisco os seus desenhos porque ninguém pode materializar tão bem as coisas assim.
É pecado.
E eu não cometo pecados.
Eu odeio os pecados e me recuso a ser um deles.
Mesmo que eu seja um deles.
Eu só estou desabafando, doutor, porque eu pago cada hora nessa sala.
Eu só estou falando mais alto porque anda calor lá fora, sabe?
Eu não quero mais diagnóstico, mais tratamento, mais nada.
Eu quero cinco minutinhos de calma na vista linda da sua sacada.
E eu quero que aquela família linda lá embaixo não esteja apenas interpretando.
A verdade é que eu estou interpretando...
Pareço bem desde aquele fatídico dia quando, na verdade...
Ai doutor...
A gente só terminou porque se gostava muito.