28.7.10

Ego não. Super ego.

Sim, vamos lá. Vou anular os 23 anos de humildade e abusar um pouco menos da modéstia. Ele me disse, eu concordo e estou tentando praticar mesmo. Mereço o que tenho e vou me dar o direito de dizer que não acho nada disso surpreendente. Corri atrás, fiz por onde e tudo que eu conquistei foi por esforço, suor, responsabilidade e muito psicológico para abstrair as portas fechadas. Confesso até que em uma ou outra ocasião me peguei pensando: eu sou foda.

Pronto. Foi meio difícil, mas acho que me saí bem para esse primeiro desabafo. Vou tentar praticá-lo uma vez por dia. Essa vida de modéstia é muito complicada e uma hora ou outra acaba consumindo a gente. Ainda não sei reagir a elogios, mas prometo engajar-me na arte de aflorar meu lado convencido. Pelo menos até postar esse texto e me arrepender amargamente de tanto narcisismo.

23.7.10

Das coisas que se deram e não se fizeram

Se eu pudesse, dentro de todo o clichê que os se eu pudesses tem, mudar o que já foi feito, alteraria apenas alguns detalhes do meu ir e vir. São eles, só eles, que determinam todo o resto da sina.

Eu teria, por exemplo, enfatizado melhor minha aposta nos seus textos. Ou respirado um pouco mais antes de ligar colocando um ponto final no parágrafo que a gente começava a refazer. Teria dispensado uma ou duas tequilas daquele dia. E ficado mais tempo lá embaixo, no perigo das entrequadras desertas, falando sobre tudo (e nada) da vida.

Teria te procurado para falar sobre o constrangimento criado ou criado um constrangimento só para te procurar. Viajado mais tarde. Retornado mais cedo. Transitado com mais frequência entre os extremos. Teria desabafado com uns bons palavrões. Bancado menos a santa e, menos ainda, a neurótica. Teria confessado, sem tantas entrelinhas, que eu não queria de jeito nenhum a sua partida.

Os detalhes, só os detalhes, determinam todo o resto do carma. Inclusive quando eles não acontecem e, nulos, mudam todo o rumo das coisas. Que bom.

18.7.10

Machado de Assis

Amor reprimido é amor multiplicado.

Mas amar e ser amado é, neste mundo, a tarefa melhor da nossa espécie, tão cheia de outras que não valem nada.

E agora, Capitu?

15.7.10

Retrô

Descobri(ram) um texto que eu nem lembrava mais... Postado aqui em um longínquo 2006. Mas que não poderia ser mais atual. A gente esquece as coisas que escreve ou só escreve porque esquece?

O jornalismo é muito mais legal no meu imaginário.
Muito mais fácil, muito mais bem remunerado, muito menos escravista.
O jornalismo, eu acredito, é coisa da imaginação
Coisa da mídia, das massas, da máfia.
É tudo uma máfia e eu estou me corrompendo pra fazer parte dela
Mas não quero e é o que eu mais busco.
O jornalismo está acabando comigo
Eu estou acabando com o jornalismo.
Quero de volta as coisas cômodas, fáceis e acessíveis
Quero a assessoria de imprensa!
Não quero mais isso de ser sempre insuficiente
De nunca ter apurado o bastante
De sempre ser infeliz na escolha do olhar
Êta mundo triste que eu me envolvi
Quase mais sem vida social do que médico e afins
Não quero viver pro jornalismo
Quero que o jornalismo viva para mim.
Mas as coisas, pelo visto, estão trocadas.
Não estou decepcionada com o curso...
Isso seria uma abordagem comum demais.
E o jornalismo odeia o que é comum.

12.7.10

Obrigada por (saber) insistir

Obrigada por insistir, escreveu ela.
E eu sai de lá pensando nessa frase.

Eu concordo que é bom que as pessoas insistam, mas acho que só insistir é fácil. Difícil é insistir nas coisas certas.

Insistir para que ele deixe de ser tão correto e fique na cama mais uns cinco minutos.
Insistir para que ela aceite as flores.
Insistir para que ele visite o pai nesse momento tão delicado.
Insistir para que ela saia de um dos empregos e cuide mais da sua saúde.
Insistir para que ele tope aquela viagem.
Insistir para que ela volte a falar com a amiga.
Insistir para que ele esqueça essas bobagens.
Insistir para que ela escale um vulcão.
Insistir para que ele largue tudo e escreva um livro.
Insistir para que ela não deixe de dar notícias.
Insistir para que ele fique feliz.

Insistir por insistir é fácil, por isso existem tantos chatos no mundo.
Mas insistir nas coisas certas, hoje eu vejo, é um dom.

11.7.10

Ensinamento da Copa

.

A voz do polvo é a voz de Deus.

.

6.7.10

Afinal

Ainda gosto das coisas que escrevi mas não sei se me pertencem mais eu sou muito menos confusa do que parecia sempre fui mas eu continuo enganando bem é verdade só que agora minha consciência pesa um pouquinho e já sei chorar sem ser de sono.

Observar as pessoas me diverte bastante mas dá muito trabalho refletir sobre elas a gente fica pensando nos outros nas mesquinharias dos outros e dá preguiça do mundo e de tanto social inútil criaturas boas de coração e de assunto estão em extinção e não vejo campanha contra isso

Não sei é tudo tão imprevisível e eu ainda não descobri o que quero ser fazer ter crescer merecer da vida antes eu achava que tudo se resumia em amor e dinheiro agora eu comecei a ter certeza que é isso mesmo tenho o suficiente dos dois mas o suficiente é sempre tão insuficiente

Me falaram para acalmar um pouco desligar eu trabalhava como se fosse mãe solteira precisando sustentar três meninos mas não sou mãe não por isso dá tempo ainda de colocar mais vírgulas na minha vida mesmo gostando da correria quem entende acho que é porque eu sinto muita falta daquele ponto daqueeeles pontos

Finais.

4.7.10

Porre

Eu me permito tomar um porre uma vez por ano.

Não para falar o que eu queria
Mas para calar o que se consente.

O que os olhos não veem, ele disse,
O coração pressente.

3.7.10

Regresso

A demora para voltar
Foi uma pausa para revisar o que foi feito
Para perceber que os textos não são mais os mesmos
Porque diferente são as fontes
Que os vícios agora são outros
Porque sou de outros dependente

Foi pra ver que não é preciso sofrimento para escrever
Viver em paz pode não ter o impacto da angústia, mas a escrita sai mais leve

A demora para voltar
Foi uma pausa para revisar o que foi feito
E encontrar motivos para continuar