12.2.07

Pálida como um carvão e estampada como um copo transparente. Assim era ela ao meio-dia. Não sabia bem se queria almoçar, dormir mais um pouco, tomar sol na hora que não pode. Não sabia direito se era de direita, se era de esquerda, se era canhota. Pintou a unha por pintar, com um esmalte que detesta, só pra poder arrancar logo em seguida. Deixou crescer o cabelo só para cortá-lo quando tivesse vontade. Rabiscou uma folha inteira para ter o que apagar depois. Fez um monte de coisa para fugir do tédio. Não conseguiu.

Era burra como um bicho inteligente e alegre como uma estátua. Gostava de bife de fígado para ser citada pelos amigos “mas conheço uma menina que gosta...” Gritava ao pé do ouvido, sussurrava ao telefone, adorava ficar irritada porque os outros sempre se irritavam mais. Usava chinelo nos pés errados, calça do avesso, roupa com etiqueta. Passou em universidades federais concorridíssimas, só para depois escandalizar a sociedade rejeitando a vaga. Gostava de sorvete no frio, de chocolate quente no calor. Dormia de calça jeans, saia de camisola. Era lúcida de nascença, doida por opção.

Mas um dia a destruíram. Descobriram suas manias, lançaram moda, ela virou exemplo a ser seguido, espelho das gentes produzidas em laboratório. Foram os piores momentos de sua vida. Meu Deus, quanta cópia original de si mesma. De doida passou a louca, de louca à desvairada, de desvairada à fim de carreira. Odiava tudo que era estranho, abominava o que era normal. E, por isso, preferiu acabar com tudo. Com tudo não, com apenas 87,23% porque isso de acabar com tudo é muito clichê.

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